"Esse blog foi editado 2009 e 2017. Não está mais em operação mas segue como arquivo de algumas de nossas reflexões sobre inovação e estratégia."
A Estratégia e o Divã
mar./2011 Saulo | Estrategiando

Trabalhando tantos anos com estratégia, tenho me questionado o quanto nos prendemos a métodos e ferramentas, pensamos em posicionamento competitivo, mercados, concorrência, tendências, oportunidades, ameaças, possíveis oceanos azuis, etc; e o quanto investimos pouco tempo para entender o que passa na cabeça dos estrategistas e líderes que em última instância materializam a estratégia através de suas decisões. Dentre as muitas definições existentes sobre estratégia, uma de minhas preferidas é aquela que diz que a estratégia é um conjunto integrado de escolhas, quando falamos em escolhas pensamos em tradeoffs críticos, como investir em um novo negócio, ou ainda, muitas vezes mais difícil, desinvestir de um negócio por vezes tradicional na organização, entrar em novos mercados, regiões, etc. Mas por trás de qualquer estratégia existem pessoas, que tem seus medos, angústias, fantasias, desejos inconscientes…ou seja, por trás de um mundo da estratégia de suposta racionalidade, há sempre um outro menos consciente, recalcado, mais difícil de entender e por tantas vezes desprezados por facilitadores pouco experientes na condução destes processos.

session

Até a mais recente crise econômica de 2008, já considerada uma das mais graves de nossa história, começa a ser analisada com uma perspectiva mais psicanalítica. Li recentemente um artigo interessantíssimo do Sérgio Telles no jornal Estado de São Paulo, colocando que hoje há uma série de hipóteses e estudos, financiados por grandes investidores como George Soros, que buscam desvendar as oscilações do mercado através de uma melhor compreensão das fantasias dos gestores, das oscilações em seu estado mental e do funcionamento da psicologia de grupo, já que as teorias econômicas convencionais não conseguem oferecer explicações satisfatórias para tudo.

Num outro artigo recente no mesmo jornal, li que uma importante construtora nacional conseguiu resolver suas crises financeiras, de gestão e existenciais com a ajuda da psicanálise. Através dela, a direção conseguiu passar pela estagnação que se abateu no setor no Brasil entre as décadas de 80 e 90 e mudar seu foco de atuação sem grandes traumas.

É nesta direção que o livro o Ativista da Estratégia, que co-organizo, destaca que uma das faces fundamentais do profissional que trabalha com estratégia é a do Terapeuta, como agente da escuta e facilitador da mudança.

Talvez por ser casado com uma psicanalista, e ter aprendido a conviver com um divã por perto, cada vez me encanto mais por este tema e sua conexão com o mundo dos negócios.  Em meu mestrado procurei estudar um pouco mais deste processo, lá focando em Aprendizagem Estratégica, como os líderes aprendem durante seus processos de reflexão estratégica e vão mudando seus modelos mentais à medida que conversam e criam sentido para suas novas crenças e hipóteses.

Por isso, por vezes, por trás de uma série de análises, números e relatórios repletos de dados e premissas gerados por estes processos tradicionais de planejamento existe o desejo de ter uma falsa sensação de segurança, quando sabemos que sem assumir riscos, desafiar modelos mentais, sem uma visão mais ampla e profunda dos seres humanos por trás das decisões e de suas relações, corremos o risco de “patinar” nas discussões estratégicas, sem conseguir avançar.

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