Olá a todos, nesse mês de Agosto, o site Nós da Comunicação estará promovendo um ciclo sobre o tema inovação e eu fui um dos entrevistados, as perguntas foram instigantes e reproduzo algumas aqui e, para quem quiser o conteúdo completo, visite o site, realmente vale a pena.
Farão parte do ciclo ainda, além de videos, onde fui entrevistado e em breve colocarei o link e um evento presencial com o tema ‘Inovação sustentável: pelo futuro que queremos’. O encontro será no dia 05/08/2010 na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-RJ), das 19h às 21h30. Para participar, envie um email para rsvp@nosdacomunicacao.com.
Abraços,
Luis Eduardo
Nós da Comunicação – Para começar, qual a sua definição para ‘inovação’?
Luis Eduardo de Carvalho – Antes de mais nada, vale dizer que existem tantas definições de inovação, quanto especialistas no assunto. E como os próprios especialistas se entendem também inovadores, adoram inovar no próprio conceito. Isso cria uma dificuldade significativa para quem pretende entender um pouco mais de inovação. Meu caminho pessoal para lidar com esse tema foi inventariar talvez mais de cem definições existentes e procurar um padrão frequente em todas elas, depois dessa pesquisa o que saiu de recorrente foram três aspectos:
O primeiro é o ineditismo, ou a presença do novo, o segundo é ser passível de implementação, pois, pouco adianta uma excelente ideia que não se pode transformar em realidade e o terceiro é que gere valor, ou seja, traga benefícios econômicos, ambientais ou sociais. Para que a definição fique clara: uma nova ideia implementada que gere valor, econômico ou social.
Nós da Comunicação – Você acredita que a forma como se conceitua ‘inovação’ também precisou passar por mudanças para acompanhar os movimentos na economia nos últimos anos?
Luis Eduardo de Carvalho – Minha impressão a esse respeito é que o conceito de inovação corre atrás da realidade, o que parece simples, mas não é nada fácil, pois as mudanças que verificamos nos últimos anos com relação à inovação são cada vez mais rápidas e frequentes.
Veja, por exemplo, a classificação das inovações de acordo com os tipos de ocorrência: inovação em produtos, processos, proposta de valor, modelo de negócios etc. Até pouco tempo, era possível ‘encaixar’ as inovações nesses conceitos. Mas o que o saudoso autor C. K. Prahalad nos coloca em seu livro ‘A Nova Era da Inovação’ (Elsevier, 2008), é que as classificações tradicionais, cada vez mais, farão menos sentido, pois as principais inovações que já estamos vivenciando se dão na convergência de todas essas categorias. Veja o iPod, por exemplo. É impossível dizer que seja apenas inovação em produto, em proposta de valor ou em modelo de negócios. O que vemos nesse caso é que as ‘caixinhas’ onde tentamos alocar os conceitos estão se ruindo. Ou seja, no futuro, possivelmente vamos ter que desaprender a categorizar as empresas entre as categorias tradicionais como manufatura e serviços.
Nós da Comunicação – Como a inovação, que sempre esteve atribuída à empresas e profissionais de tecnologia, se faz importante para os demais setores?
Luis Eduardo de Carvalho – A questão que se coloca é que três forças em paralelo passam a atuar para a grande maioria das empresas e negócios: a queda nas barreiras de entrada, ou seja, a facilidade de novas empresas atuarem em negócios até então protegidos, concorrentes hipereficientes, que podem produzir produtos ou oferecer serviços similares por até 30% do valor original, e, por fim, o aumento do poder dos clientes, que com a internet podem pesquisar, comparar e conhecer em profundidade seus fornecedores.
Esses três movimentos atuando em conjunto tendem a comprimir cada vez mais as margens de lucro no futuro. E uma das poucas saídas possíveis para a sobrevivência das empresas será a inovação. Logo, esse desafio, que até pouco tempo era bastante restrito ao mundo das empresas de tecnologia, passa a ser de boa parte das empresas todos os dias.
Nós da Comunicação – Mas como fazer da capacidade de inovar um elemento presente nas organizações nos dia de hoje?
Luis Eduardo de Carvalho – Entendo que a capacidade de inovar deve estar presente de duas formas, na cultura e em processos que fomentem a inovação. No aspecto da cultura, o principal desafio é assegurar algumas pré-condições para a inovação, que são:
Confiança: Há algum tempo perguntaram a mim se pudesse fazer uma coisa apenas para tornar uma empresa mais inovadora, o que faria. De imediato me ocorreu: atuaria para aumentar a confiança, pois, as novas ideias requerem um pouco de ingenuidade, aceitação do erro e uma certa redução do senso critico para ocorrer. Se falta confiança mútua no ambiente vai prevalecer o medo de errar. E aí esse ‘bichinho’ chamado inovação se esconde e nada o fará sair de lá.
Folga: esse ponto é um dos mais interessantes, pois, para inovar, é necessário tempo livre e a maior contradição que vivemos é que, dia após dia, ‘otimizamos’ o nosso tempo de forma a uma ‘melhor’ utilização. Com isso, preenchemos cada vez mais os espaços vazios. Isso é um perigo para a inovação, pois ela requer folga! Esse movimento se acentua ainda mais com a fragmentação do tempo, ou seja, além de pouco, o tempo livre é constantemente interrompido por e-mails ou celulares.
Diversidade: o aumento do ‘share of voice’ de alguns públicos importantes para a inovação, como os novos funcionários, jovens e os que estão geograficamente distantes da matriz. Acreditamos que esses públicos, exatamente por contemplarem uma maior diversidade, têm muito a contribuir em processos de inovação. Para ocorrer, a inovação requer ainda um outro nível de diversidade, a que trata de características dos indivíduos. Ou seja, para fomentar a inovação necessita-se de pessoas analíticas x criativas e de pensamentos divergentes x convergentes; intuitivos x racionais. Falar de diversidade é simples, implementá-la nem tanto.