"Esse blog foi editado 2009 e 2017. Não está mais em operação mas segue como arquivo de algumas de nossas reflexões sobre inovação e estratégia."
Críticas ao Balanced Scorecard: Originalidade e Modismo
jul./2008 Luís | Ideias Inspiradoras

Críticas ao Balanced Scorecard: Originalidade e Modismo

Você acha que o BSC está livre de críticas ?

Muito pelo contrário, como uma prática de gestão de ampla utilização e rápido crescimento, ele é alvo de uma série de críticas que em geral vão atacar exatamente as caracteríticas responsáveis por essa aceitação:

  • a simplicidade do modelo,
  • o enfoque nas relações de causa-efeito e
  • sua originalidade.

Embora como consultor eu acredite que a ferramenta é sim de grande valia para muitas empresas, sempre acho bom tomar contato com as principais críticas, pois elas podem nos ajudar a implementar modelos cada vez melhores.

O fato é que embora com problemas, ainda não há algo melhor para a Gestão da Estratégia e diferentemente do que pensam muitos, acho que temos que ter coragem para lidar com as críticas.

E você o que acha ? Deixe aqui sua opinião.

A seguir serão apontadas algumas dessas críticas, boa leitura !

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Causalidade unidirecional e simplismo
A principal crítica com relação a esse aspecto é que as relações de causa-efeito se dão apenas das perspectivas inferiores para as superiores no mapa estratégico. O que alguns autores sugerem é que na realidade não sejam relações de causa-efeito e sim de interdependência ou causalidade bidirecional, características não contempladas pela ferramenta;

Não separação de causa e efeito no tempo
Outros autores sinalizam os problemas decorrentes dimensão tempo não ser considerada parte do balanced scorecard, isto ocorre porque as relações de causa-efeito são consideradas no mesmo momento.

Ausência de mecanismos de validação
O balanced scorecard não provê nenhum mecanismo de verificação da continuidade da relevância dos indicadores estabelecidos e uma vez que os gestores foram estimulados a acompanharem poucos indicadores, se os mesmos não forem os indicadores corretos, isso pode ser um problema para a organização. A esse respeito pode-se dizer que já a partir do livro Organizações Orientadas à Estratégia (1996) os autores enfatizam a importância de constantemente verificar a validade da estratégia e questionarem se os indicadores continuam sendo os mais adequados.

Conexões insuficientes entre a estratégia e operações
Outros ainda sinalizam que o balanced scorecard possui uma fraca integração entre as métricas de nível estratégico e as de nível operacional, tendo como foco de atuação as métricas de nível apenas estratégico.

Foco demasiadamente interno
Ao não considerar a cadeia de valor estendida, os fornecedores, bem como as ações dos competidores, o balanced scorecard deixa de considerar importantes dimensões de análise de uma organização.

Originalidade
Outra questão frequentemente colocada a respeito do balanced scorecard é sobre a sua originalidade enquanto conceito, ou seja, em que medida os conceitos ali apresentados são de fato novos ou foram apropriados pelos autores com um novo formato. A esse respeito, COSTA (2001) argumenta que o balanced scorecard é uma contribuição original à literatura porque:

“1) Repensa temas antigos, mostrando a vinculação entre pontos vitais que não estavam claramente articulados;
2) Mostra como esses conhecimentos estabelecidos podem ser articulados para serem aplicados aos tempos modernos, para atender às novas exigências;
3) Aumenta a compreensão do tema ‘vinculação entre estratégia e operação’ e aperfeiçoando a literatura de contabilidade gerencial” COSTA (2001, pgs.100–101).

Entre todas as críticas, uma das mais contundentes é feita por Hanne Norreklit, no artigo The Balanced Scorecard: what is the score? A rhetorical analysis of the Balanced Scorecard (2003), para esse autor a atenção que despertou o conceito tem forte relação com a maneira que os autores o divulgaram e o uso de uma “retórica promocional”.

As críticas do autor são várias, entre elas pode-se citar: a linguagem utilizada por Kaplan & Norton com as analogias à aviação e a navegação[1], a utilização dos artigos onde a reputação de quem o publica já garante a veracidade do conteúdo, a aproximação demasiada com a atividade de consultoria, a linguagem por vezes aberta demais que possibilita que cada um tenha suas próprias interpretações, entre outras.

[1] Um exemplo pode ser o seguinte trecho extraído de um dos artigos: “Imagine que você é um general levando suas tropas dentro do território inimigo (…)”. (KAPLAN e NORTON, 2000, pg.3).

Para que quiser ler mais sobre o assunto recomendo os seguintes textos:

NORREKLIT, H. (2003). The Balanced Scorecard: what is the score ? A rhetorical analysis of the Balanced Scorecard, Accounting Organizations and Society, vol. 28 (591-619).

Costa, A. P. (2001). Contabilidade Gerencial: Um estudo sobre a Contribuição do Balanced Scorecard. São Paulo: Dissertação de Mestrado. Fea / Usp, 2001.

MCNAIR, C. J. (1990). Do Financial and Nonfinancial Performance Measures Have to Agree ?, Management Accounting, November, p. 30.

4 comentários a Críticas ao Balanced Scorecard: Originalidade e Modismo

  1. Luiz Ricardo Kabbach de Castro disse:

    Olá Luis Eduardo –

    Concordo contigo quando diz que temos que ter corragem para lidar com as críticas. Quanto ao BSC, os próprios autores parecem lidar bem com estas críticas haja vista sua evoluçao ao longo dos anos, desde sua primeira publicaçao nos anos 90. Além disso, merece destacar a metodologia de pesquisa de Kaplan ,Innovation Action Research, que inclui diversas etapas de “feed-back” sobre o conhecimento gerado. Assim, o material publicado é fruto, nao da invençao pura e simples dos autores, mas de um processo intenso de reflexao, discussao, boas práticas, coreçao, etc…etc.
    Vale dizer que nada está “escrito em pedra” e que as críticas enriquecem estes modelos e os fazem evoluir a luz de novos desafios na gestao das organizaçoes.

    Abs.

    Luiz Ricardo

  2. Luis Eduardo de Carvalho disse:

    Olá Luiz, fico muito feliz e grato com seus comentários. Além de ser sempre um prazer poder re-encontrar um ex-colega de Symnetics aqui no Blog.

    Para quem não sabe, o Luiz refere-se ao seguinte artigo: KAPLAN, R. (1998). Innovation Action Research: Creating New Management Theory and Practice, Journal of Management Accounting Research, Volume 10.

    Para mim talvez um dos mais elucidadores sobre como trabalha Kaplan e que método utilizou para desenvolver o BSC. Nesse artigo fica claro que os comentários externos são muito importantes para o aperfeiçoamento do método.

    Por outro lado, parece que os autores foram muito atentos às críticas logo no começo (1992-2000) e aproveitaram-nas para melhorar o modelo, mas já há algum tempo, pelo menos 7 anos, desde a publicação do Organização Orientada à Estratégia, não se observa uma evolução significativa do método oriunda das críticas.

    Você tem uma opinião distinta Luiz ?

    PS – Caso alguém queira esse texto, mande-me um e-mail que posso conseguir.

  3. RANOLFO MATOS disse:

    Excelente seu blog.
    Adorei, até porque, sou profissional de BSC e estudioso da Estratégia do Oceano Azul. Procurando material para pesquisa, encontrei este blog. As entrevistas são muito boas.
    Estou elaborando marco de referência para minha Tesi de doutorado e seu blog é bastante pertinente.
    Faço doutorado fora do Brasil e busco material sobre o assunto por toda a parte. Já conheço a Estratégia do Oceano Azul desde 2008, quando tive o primeiro contato com o tema.
    BSC já faz parte de minha atividade acadêmica e profissional.
    Agradeço a todos.

  4. Isael de Aguiar Molgori disse:

    Olá Luis, parabéns pelo site, muito bom.

    Quanto ao BSC, tive a oportunidade de como Controller, participar de uma implantação em uma distribuidora de produtos farmacêuticos, que terceirizava farmácia em prefeituras. Lá chegando encontrei uma empresa com certificação ISO 9001, com vários indicadores operacionais sendo utilizados somente no momento da auditoria anual da ISO. Fizemos uma integração dos indicadores estratégicos do BSC e operacionais da ISO, avaliando os primeiros a cada 3 meses e os operacionais mensalmente. Para viabilizar as métricas implantamos uma ferramenta, que cria um BI…, ficou show de bola, e forçou a organização a implantar gestão orçamentária e trouxe uma maravilhosa integração entre as áreas…….

    Grande abraço

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